Não caiam na ideia de que ‘há um bebê entre nós’ e que a mulher grávida é um ente santificado. Sexo é bom e o orgasmo é um santo remédio

Grávida de sete meses. Já me desesperei, já chorei de alegria e também de tristeza, já explodi com os nervos à flor da pele, já senti uma ansiedade nova correndo nas veias, já pensei em desistir. Até aí, poucas novidades no universo de uma gestante de primeira viagem. Mas o que tenho a dizer pode surpreender algumas: esqueça a shopping-terapia, só um bom orgasmo pode salvar a grávida desses mares revoltos dos hormônios da gestação.

Na verdade, um bom orgasmo resolve quase qualquer coisa na vida para a maioria das pessoas. Mas, para gestantes, o orgasmo é realmente uma bênção ressuscitadora! A única (e grande!) parte triste dessa história é que a relação entre gestação e prazer sexual ainda é muito mal resolvida socialmente.

Para muitas grávidas, a vida sexual passa a ser um grande conflito moral. Numa sociedade muito machista, a mulher que engravida é, de repente, revestida por um manto simbólico de santidade que a impede de ser gente com desejo, libido, tesão. Pobre grávida, além de sofrer com todos os impedimentos reais da gravidez, ainda não pode desfrutar das virtudes de um corpo que gesta a todo vapor!

Vou contar uma historinha que se passou comigo recentemente, com a expectativa de que você que lê este texto seja (ou se torne) mais uma entusiasta dos orgasmos gestacionais.

Entre todos aqueles altos e baixos da gestação, lá pela 17a semana de gravidez, passei uns 10 dias bem deprê, resistente à ideia de ser mãe, só imaginando todos os ônus que uma gestação poderia me trazer. O que deflagrou esse momento de tristeza foi algo que pra quem vê de fora parece bobo: de um dia para o outro perdi a barriguinha que já despontava na minha silhueta. Com 18 semanas de gravidez fui privada do maior símbolo que se inscrevia no meu corpo: uma barriga de grávida. Diante do meu desânimo insistente, meu companheiro sensível me convidou ao ninho. “Vem cá que você tá precisando ser cuidada, relaxar, gozar.”

Com 20 semanas de gestação, voltei a engravidar simbolicamente graças a um orgasmo que andava entalado nas minhas entranhas

Já fazia uns dez dias que não transávamos porque eu não dava chance. Mas naquele momento me entreguei à ideia de um chamego. Entre uma carícia e outra, meu marido sacou o vibrador mais potente que temos em casa, uma verdadeira bazuca vibratória. Depois de caprichar na massagem em todo o meu corpo, lá foi ele cuidar minha vulva que andava às traças! Com uma habilidade rara (confesso) em manusear um vibrador, meu marido posicionou o instrumento mágico no meu clitóris e lá ficou com toda a sua destreza e precisão até que eu tivesse um dos orgasmos mais potentes da minha vida: intenso, implosivo, catártico!

A sopa de hormônios quentes finalmente jogou a favor. Vibrei inteiramente, as lágrimas corriam pelos meus olhos, meu corpo todo chorou. Ao me recuperar daquela experiência transcendental de entrega e gozo, me deparei com meu companheiro de olhos arregalados, em choque, olhando para um barrigão de grávida que ressurgiu em mim após uma boa descarga libidinal! Com 20 semanas de gestação, voltei a engravidar simbolicamente graças a um orgasmo que andava entalado nas minhas entranhas.

Gozar não é só questão de prazer, gozar é questão de saúde! Todas nós estamos suscetíveis a acumular tensões no corpo ao longo de um dia estressante. Toda essa carga acumulada precisa ser descarregada de alguma forma, caso contrário, adoecemos, enlouquecemos. O orgasmo é a descarga natural, mais direta e resolutiva para o corpo humano. Para grávidas, gozar é questão de sobrevivência emocional. Gozar é a chance que a gestante tem de entrar em contato com suas pulsões, sua individualidade, seu inconsciente, sua força uterina que vai muito além da possibilidade de gerar um bebê.

Então, deixem as grávidas em paz, deixem as grávidas gozarem. Um corpo santo é um corpo feliz. E um corpo feliz gera um bebê feliz.  

Mariana Stock é fundadora da Prazerela, uma iniciativa que apoia mulheres a viverem a sexualidade de forma positiva e sem repressões

 

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